A crise fundiária em nosso país deveria alertar rapidamente as autoridades. De fato, depois de uma assembleia geral e uma conferência com a imprensa, sábado passado, os desalojados mobilizaram cerca de mil pessoas determinadas a se oporem, durante a passeata de ontem, aos espoliadores de terrenos, parcelas, casas e outras concessões destinadas à habitação (governantes, funcionários do alto escalão e prefeitos).

Marcha UACDDDD contra os despejos (Bamako, 14 de março de 2012)

“Não ponha a mão na minha terra, na minha casa, no meu jardim, no meu cemitério, no espaço de descanso” eram os slogans  ostentados em bandeirolas e pronunciados pelos manifestantes da Union des Associations et des Coordinations  des Associations pour le Développement et la Défense des Droits des Démunis  (UACDDDD)[1] . Essa passeata, que aconteceu ontem, saiu da Bolsa do Trabalho e terminou na Cidade Administrativa.

A UACDDDD tinha mobilizado um número impressionante de militantes vindos de diferentes regiões para combater as injustiças sofridas no âmbito fundiário. Esse é o motivo pelo qual governantes, funcionários do alto escalão, prefeitos, juízes desonestos e corruptos eram duramente criticados ao longo da passeata. Os manifestantes também citaram os nomes de empresas (Gdcm, Cifma, Ben Sukala, Malibya) que, como eles entoavam, contribuíram para sua espoliação e pobreza. Na chegada à Cidade Administrativa, os manifestantes foram barrados pela polícia, que pediu para que uma delegação de dez membros fosse rapidamente enviada.

Marcha UACDDDD contra os despejos (Bamako, 14 de março de 2012)

A UACDDDD designou dez membros do escritório, dentre os quais o presidente, Soungalo Koné, o secretário geral, Famory Kamissoko, e a presidente das mulheres, Fatimata Bagayoko. Foi dessa maneira que os dez representantes e a imprensa se encontraram no gabinete do Ministro do Meio Ambiente e Saneamento, Tiémoko Sangaré, na presença de David Segara, Ministro encarregado da descentralização junto ao Ministro da Administração Territorial e das Coletividades Locais.

Os militantes da União expuseram seus problemas que ocasionaram passeatas, debates, encontros, sit-in , sem que a situação fosse resolvida, apesar da instauração de uma comissão ad hoc . Eles pediram ao ministro uma resposta clara às suas reclamações, sem a qual, ameaçaram, organizariam um sit-in  na frente da Cidade Administrativa.

Marcha UACDDDD contra os despejos (Bamako, 14 de março de 2012)

Tiémoko Sangaré pediu a compreensão dos manifestantes, declarando-lhes que se um “maliense tem um problema, o problema é de todos os malienses”. Isso quer dizer que o governo está sensível às suas reivindicações. Entretanto, o ministro declarou não estar apto para dar uma resposta aos manifestantes, sem antes consultar o primeiro ministro e seus colegas envolvidos no caso em questão.

A reação dos representantes não se fez esperar. De fato, eles rejeitaram imediatamente a proposta do ministro de enviá-los diante dos militantes com o intuito de dizer que o governo não poderia dar-lhes uma resposta. Sem mais tardar, eles exprimiram sua exasperação, denunciando os funcionários corruptos que contribuem na confecção de documentos falsos com a finalidade de expropriá-los de suas terras.

Marcha UACDDDD contra os despejos (Bamako, 14 de março de 2012)

Por esse motivo, os representantes pediram ao ministro que saísse de seu gabinete para conversar com os militantes que se encontravam em frente da Cidade Administrativa com seus cartazes e entoavam seus diversos slogans .

O Ministro do Meio Ambiente e do Saneamento, Tiémoko Sangaré, aceitou, finalmente, a proposta de dialogar com os manifestantes, depois de mais uma vez pedir-lhes paciência e aconselhá-los a dar-lhe o tempo necessário para tomar as devidas providências. Em seguida, os dois ministros saíram da Cidade Administrativa e, diante dos manifestantes, Tiémoko Sangaré, em nome do Primeiro Ministro, pediu um mês para que estudar convenientemente a questão a fim de encontrar a solução. Ele afirmou: “Vamos tomar todas as medidas cabíveis para resolver os problemas. Em nome do Primeiro Ministro, peço que vocês aceitem meu pedido e me concedam um mês”. Em seguida, algumas reações de decepção marcaram as palavras do Ministro do Meio Ambiente. Visivelmente satisfeitos e sorridentes, como se tivessem acabado de desarmar uma bomba, os ministros retornaram à Cidade Administrativa.

Marcha UACDDDD contra os despejos (Bamako, 14 de março de 2012)

Em seguida, pediu-se aos manifestantes que não se dispersassem e se reunissem ao lado do cruzamento rodoviário. Nesse local, o Secretário Geral Adjunto da UACDDDD, Massa Koné, reafirmou que os ministros tinham pedido um mês e que eles tinham aceitado a proposta. Porque isso era uma questão de confiança. Dentro de um mês, ele deixou claro, eles vão cobrar a palavra dada e pedir explicações. Ele disse que os membros do gabinete vão se reunir imediatamente para estudar o procedimento a seguir. Logo depois, pediu a cada um dos manifestantes que voltasse para perto de suas famílias, evitando, entretanto, pronunciar a palavra casa, visto que os desalojados tinham acabado de responder a Tiémoko Sangaré que não tinham casa.

[1]  UACDDDD - União das Associações e das Coordenações de Associações para o Desenvolvimento e a Defesa dos Direitos das Pessoas Carentes