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Ativista de Miami leva moradores para imóveis retomados

Max Rameau faz sua apresentação de vendas como um profissional. “Toda com piso frio!” ele diz durante uma apresentação recente. “E a sala de estar, veja! Tem persianas maravilhosas.”

Mas em quase todos os outros aspectos, ele é diferente de qualquer outro corretor de imóveis que você já viu. Ele tem a barba por fazer, dirige um carro velho e usa umas calças de moleton largas e com as pernas cortadas. Ele também invade as casas que ele mostra. E seus clientes não tem um tostão para dar de entrada.

Fonte: The Associated Press

MIAMI 1º Dezembro 2008, 15:58 ET ·

Rameau é um ativista que vem executando um plano de emergência próprio nas ruas desertas de Miami: ele ajuda pessoas que foram despejadas a se mudar ilegalmente para imóveis retomados.

“Estamos promovendo o encontro de pessoas sem-teto com tetos sem-pessoas,” ele disse com um sorriso.

Rameau e um grupo formado por outros simpatizantes formaram o Retomar a Terra[1] , que também ajuda os novos “inquilinos” com mobília de segunda mão, produtos de limpeza e manutenção do terreno. Até agora, ele já conduziu seis famílias para imóveis executados e retomados e tem nove numa lista de espera.

“Eu penso que todos merecem um lar,” disse Rameau, que disse não ganhar nenhum dinheiro com seu trabalho com os sem-teto. “Pessoas sem-teto em todo o país invadiram imóveis vazios. A questão é: isto vai ser feito por puro desespero ou com algum direcionamento?”

Com o colapso do mercado imobiliário, a invasão de moradias executadas tem crescido em todo o país. Mas os invasores normalmente se mudam por sua própria conta, durante a noite, quando ninguém está olhando. Raramente este é um movimento tão organizado quanto a iniciativa de Rameau de “liberar” os imóveis retomados e esvaziados.

Florida – especialmente na área de Miami, que já viveu o boom dos condomínios – é um dos estados mais afetados pela crise da moradia, em grande parte por conta da construção super-dimensionada e da especulação. Em setembro, a Florida teve a segunda maior taxa de execuções, com um em cada 178 imóveis inadimplentes, de acordo com o Realty Trac, um negociador online de propriedades executadas. Somente Nevada teve taxa mais alta.

Assim como outras cidades, Miami está tentando minorar os problemas. As autoridades lançaram um programa de prevenção às execuções para ajudar os proprietários de imóveis que não conseguem pagar seus financiamentos, com empréstimos de até US$7.500 por imóvel.

A cidade também recentemente exigiu dos proprietários de casas retomadas – sejam eles pessoas físicas ou bancos – para registrar as propriedades junto à prefeitura, de forma que a polícia possa monitorá-las de forma mais eficaz.

Em outras partes do país, advogados em Cleveland estão trabalhando com a prefeitura para permitir aos sem-teto que se mudem legalmente e recuperem casas vazias e dilapidadas. Em Atlanta, alguns proprietários de imóveis pagam a pessoas sem-teto para viver em suas casas como medida de segurança.

No início de novembro, Rameau levou uma mulher e sua filha de 18 meses para um rancho numa rua calma ladeada por plantas tropicais. Marie Nadine Pierre, 39, tem dormido num abrigo com sua criança. Ela conta que tem sido sem-teto de forma intermitente por um ano, depois de perder vários empregos e ser despejada de vários apartamentos.

“Meu coração está pesado. Eu vivi em diferentes abrigos, várias situações ruins,” disse Pierre. “Na minha própria casa, estou livre. Sou um ser humano agora.”

Rameau escolheu a casa para Pierre, em parte porque ele conhecia a história dela. Um homem havia comprado a casa no bairro predominantemente habitado por Haitianos em 2006 por US$430.000, depois alugou a casa para amigos de Rameau. Estes amigos foram despejados em outubro porque o proprietário havia parado de pagar seu financiamento e a propriedade foi retomada.

Rameau, que ganha a vida como consultor de TI, disse estar fazendo um favor ao proprietário. Antes de Pierre se mudar, alguém havia roubado o aparelho de ar-condicionado da parte de trás da casa, e seria só uma questão de tempo até que ladrões levassem os canos de cobre e a fiação, ele disse.

“Dentro de poucos meses, este lugar seria dilapidado e traficantes de drogas estariam morando aqui,” ele disse, carregando um saco de lixo enorme com as roupas de Pierre para dentro da casa.

Ele diz não ter medo de ser preso.

“Há uma necessidade real aqui, e um descompasso entre a necessidade e a lei,” ele disse. “Ser preso é só um dos fatores potenciais de fazer isto.”

A porta-voz de Miami Kelly Penton disse que as autoridades municipais não sabiam que Rameau estava levando sem-teto para as casas vazias – mas eles também não estão tentando impedi-lo.

“Não há ações da prefeitura para parar com isso,” ela disse num e-mail. “É importante notar que se as pessoas invadirem propriedade privada, cabe ao dono da propriedade tomar as medidas para remover aquelas pessoas.”

Pierre poderia ser acusada de invasão de propriedade, vandalismo ou apropriação indébita. Rameau assegurou a ela que ele tem advogados que poderão representa-la de graça.

Duas semanas após Pierre se mudar, ela encontrou as fechaduras mudadas, provavelmente pelo administrador da propriedade. Tudo o que havia dentro da casa – sua comida, roupas e fotos de família – tinha desaparecido.

Mas no final do mes passado, com a ajuda de Rameau, ela voltou a entrar na casa e colocou decoração de Natal na porta da frente.

Até agora, a Polícia não se envolveu.

foto 1: Marie Nadine Pierre segura seu bebê, Nennon, enquanto caminha pela casa “sem-pessoas” onde está morando em Miami, quarta-feira, 26 novembro 2008. Pierre está ocupando uma casa retomada pelo banco.

foto 2: Max Rameau, dentro de uma das “casas sem-pessoas”, quarta-feira 26 novembro 2008, em Miami, que ele está usando em seu plano próprio de emergência. Rameau está conduzindo pessoas sem-teto para casas executadas pelos bancos e esvaziadas.

[1] Take Back the Land. Liberty City residents and supporters, led by the Center for Pan-African Development, squat on public land, to build housing for our own community. No government permission or money. We are liberating the land for our people. Take back the land

http://www.npr.org/templates/story/story.php?storyId=97660799